Autores
José Benedito de Freitas Trovo - Orientador: Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte
Resumo
A presença de interações touro-sexo em características do crescimento pode acarretar perda de precisão, ou se constituir em causa de erros, nas estimativas dos valores genéticos dos indivíduos em programas de seleção. A situação acresce-se em importância e complexidade à medida que indivíduos de diferentes sexos são mantidos em condições ambientais diferentes.
Para investigar a presença e a magnitude de interações genótipo-ambiente, com base no comportamento diferencial de progênies de diferentes sexos pertencentes ao mesmo touro, foram utilizados 556 animais (259 machos e 297 fêmeas) da raça Nelore, filhos de 19 touros, nascidos e criados na Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho. As características estudadas foram os pesos ao nascer (PN), a desmama (PD), aos 13 (P13) e aos 18 (P18) meses de idade, além do ganho em peso vivo médio diário do nascimento a desmama (GND) e do ganho em peso total da desmama aos 18 meses (GD18).
As fêmeas foram mantidas sempre a pasto do nascimento até os 18 meses. Os machos, após a desmama, foram confinados até a idade próxima de 13 meses, retornando ao pasto até completarem 18 meses. Foram empregados dois modelos lineares de análise. O modelo (1) considerou os sexos em separado e incluiu, além do efeito aleatório de touro (1,....,19), os efeitos fixos de ano (78,....,80) e mês (agosto, ...,novembro) de nascimento e ordem do parto da mãe (agrupado: 1,....,5) do animal, além das covariáveis idade na desmama (somente para PD) e peso à desmama (somente para GD18). O modelo (2) considerou os sexos em conjunto, incluindo portanto o efeito fixo de sexo (1,....,2) e interação touro-sexo, além dos demais efeitos já descritos para o modelo (1).
As médias gerais e os desvios padrões para PN, PD, GND, P13, P18 e GD18, foram, para machos e fêmeas, respectivamente, 29,6 ± 3,5 e 26,8 ± 3,3 kg; 181 ± 29 e 155 ± 26 kg; 721 ± 97 e 617 ± 100 g; 300 ± 30 e 162 ± 22 kg; 332 ± 29 e 248 ± 28 kg; 151 ± 22 e 92 ± 21 kg. Com base nas estimativas dos componentes de variância e covariância devidas a touro foram estimadas as correlações genéticas entre as características medidas nos dois sexos, as quais forneceram os valores para PN, PD, GND, P13, P18 e GD18, respectivamente de 0,74; 0,99; 1,08; 0,59; 0,62; 0,53. Os coeficientes de herdabilidade, estimados através da correlação entre meios-irmãos paternos para as características acima, para machos e fêmeas, nessa ordem, foram: 0,38 ± 0,20 e 0,33 ± 0,18; 0,21 ± 0,16 e 0,21 ± 0,15; 0,23 ± 0,17 e 0,21 ± 0,15; 0,41 ± 0,21 e 0,39 ± 0,19; 0,58 ± 0,25 e 0,55 ± 0,23; 0,42 ± 0,21 e 0,30 ± 0,17.
A interação touro-sexo apresentou efeitos não significativos (P < 0,05) para as características representativas do desempenho pré-desmame (PN, PD e GND), e, inclusive as estimativas dos componentes de variância representaram menos de 1% da variância total. Para as características representativas do desempenho pós-desmame (P13, P18 e GD18), a interação touro-sexo apresentou efeitos significativos (P < 0,01), mesmo com os dados transformados para logarítimos decimais devido a efeitos de escala.
Os resultados obtidos sugerem, para o rebanho em questão e considerando-se as características do desempenho pré-desmame, que os valores genéticos dos touros poderão ser estimados utilizando-se informações de progênies de um ou de ambos sexos. Para as características do desempenho pós-desmame, os resultados indicam que diferentes genes podem estar sendo selecionados nos machos e nas fêmeas - devido, possivelmente, mais a diferenças de manejo dos animais pós-desmama - interferindo, deste modo, na eficiência da seleção.
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências (Área de Genética). Ribeirão Preto, SP, 1983, 71p.